O que me inunda não vem do céu
Ainda que viessem bem
Chuva, vento, conforto
São dez e meia e trinta e tantos graus
Eu na cama e um cinzeiro cheio na mesa de cabeceira
E me lembrei que à noite
Amava e morria e acordava dos sonhos
Esperando alguém me salvar dessas paredes
E eu tinha a vista da janela do quarto andar
E o barulho dos carros
E as luzes dos prédios
De insones e apaixonados
E pensava nos anjos de carne e osso que
Me encontraram e salvaram e cuidaram de mim
São os caminhos tortos e livres do meu propósito
E essas linhas solitárias
Me levaram a falar com Deus
Eu insisto e planto sonhos e vaidades
Porque há tempo para tudo
Debaixo do sol
Hoje, a subida ao calvário
Amanhã, quem sabe?